terça-feira, 19 de maio de 2009

Números trazem euforia de volta

De Olho na Bolsa Autor(es): Daniele Camba Valor Econômico - 19/05/2009 O mercado ontem voltou a demonstrar o mesmo ânimo que fez o Índice Bovespa subir 15,55% em abril, após nove semanas consecutivas de valorização. O Ibovespa já começou o dia no campo positivo e isso foi se acentuando à medida que as horas passavam e o fluxo de compras de ações ganhava ainda mais força. O resultado dá gosto: o índice fechou em alta de 5,01%, aos 51.463 pontos. Essa é a maior alta percentual do indicador desde o dia 4 deste mês, quando subiu 6,59%. Já em termos de pontuação, é o maior nível desde o dia 6, quando fechou aos 51.499 pontos. Os analistas encontraram argumentos locais e externos para essa recuperação. Mas a grande verdade é que os investidores estrangeiros acordaram de bom humor com o Brasil e resolveram aumentar ainda mais a exposição de suas carteiras em ações da Bovespa. "Os indicadores que saíram são apenas o pano de fundo desse bom desempenho, o fato mais contundente é o enorme fluxo de recursos internacionais para os mercados emergentes, especialmente na América Latina, com destaque para o Brasil", diz o sócio da Argúcia Capital Management Ricardo Magalhães. No mês, até o dia 13, o saldo líquido (diferença entre compras e vendas) de investimento estrangeiro está positivo em R$ 2,122 bilhões. Durante os primeiros pregões de maio, esse fluxo chegou a superar os R$ 3 bilhões. Mas, como já se esperava, após uma acentuada valorização das ações, uma parte desses investidores vendeu seus papéis para colocar os ganhos no bolso. De qualquer forma, o saldo no ano ainda está para lá de positivo: R$ 7 bilhões. Essa cifra é boa principalmente considerando a enxurrada de dinheiro internacional que saiu da bolsa desde que a crise começou. Com a recente melhora do cenário externo, aos poucos, os estrangeiros tiraram os recursos dos títulos do Tesouro americano e voltaram a aplicar em ativos de maior risco, lembra Magalhães. Os indicadores que saíram ontem corroboraram o tom positivo dos negócios. A começar pelos Estados Unidos. Segundo a Associação Nacional dos Construtores de Residências do país (NAHB), o índice de confiança do setor com relação à possibilidade de venda de novas casas subiu de 14 em abril para 16 este mês. É o segundo mês consecutivo de alta do indicador e o maior número desde setembro do ano passado, exatamente quando houve a quebra do banco americano Lehman Brothers, que deflagrou uma piora substancial da crise. No cenário interno, os números um pouco melhores do mercado de trabalho ajudaram na alta. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, teve um saldo positivo de 106.205 de novos empregos em abril, também o melhor desempenho desde setembro de 2008. Vale lembrar, no entanto, que este é o pior número para um mês de abril desde 2000. Pode parecer mera coincidência, mas o fato de os dois indicadores (do Brasil e dos EUA) serem os melhores desde que a crise piorou levou analistas e investidores a terem ainda mais segurança de que o pior já passou. "A crise ainda está longe do fim, mas a economia, aos poucos, dá sinais de melhora", diz o economista-chefe da corretora Ágora, Álvaro Bandeira. Isso não significa que o mercado agora só irá subir. Ele acredita que o Ibovespa mudou de nível e terá mínimas e máximas em níveis cada vez mais superiores. O fato de o volume da bolsa ser bem maior em dias de alta do que nos pregões de queda é mais um sinal da força do movimento de recuperação, lembra Bandeira. O giro de ontem, por exemplo, foi de R$ 7,8 bilhões, no entanto, inflado pelo exercício de opções (direito de comprar ou vender uma ação a um determinado preço), que movimentou R$ 2,48 bilhões. Bom não é Se a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras não será ruim para a companhia, boa também não é. Mesmo que o Congresso não encontre nenhum escândalo, que é a aposta de vários analistas, essa insegurança do que irá ocorrer deve provocar uma volatilidade negativa para as ações. Para Magalhães, da Argúcia, este pode ser o momento de estar fora dos papéis da estatal, até porque é possível que ocorra uma redução no preço dos combustíveis e o resultado da Petrobras neste trimestre não deve ser bom. Daniele Camba é repórter de Investimentos E-mail: daniele.camba@valor.com.br